quinta-feira, 17 de outubro de 2013

André Sant'Anna

De 2000 a 2007, um jornal de Belo Horizonte, publicou umas 200 cartas minhas, na página de opinião dos leitores; onde minha humilde pessoa discorria sobre assuntos diversos, com destaque à política, já que nossos jornais dão muita enfase a isso.

Eu, além de recortar minhas missivas publicadas, guardava também textos interessantes.
E entre os articulistas do jornal, o que eu mais gostei foi do escritor André Sant'Anna, que também é músico , entre outras coisas.

Interessante é que quando  li seu primeiro artigo publicado no jornal, eu o detestei. Pensei que se tratava de um direitista desbocado(rs). Ele já começou o texto, tipo assim: "Falaram que eu podia falar o que eu quiser, até palavrão..." E aí, já começa a chamar os leitores de imbecis, de burgueses, e fala dos tempos em que morava em BH, e junto com seus colegas de adolescência, mijava num garoto retardado.
Fiquei indignado, e nem sei porque não escrevi para o jornal criticando-o. No entanto, umas três leitoras o detonaram, ameaçando até parar de ler o jornal por causa dele(rs). A mais indignada foi uma psicanalista.

No artigo seguinte, ele nos surpreendeu, pois respondendo às críticas, em especial à da psicanalista, se mostrou um indivíduo até careta, preocupadíssimo com as desigualdades, com destaque para crianças necessitadas, que vivem na rua. Confessou que sua consciência doía por ter urinado no garoto retardado.
A psicanalista replicou, sendo mais simpática com ele, mas no final, ela o convida para uma terapia, a um preço simbólico de 1 real.rs

Mas, foi à partir de seu terceiro texto, que comecei mesmo a gostar dele.  Ele não poupa ninguém, nem a si mesmo. Chama a todos de imbecis, incluindo a si próprio.
Não sou muito chegado em palavrões, mas no caso dele, fiz uma exceção.  Tenho muito dos seus textos guardados. Só não os publico aqui, pelo fato de serem muito longos.  Suas críticas às religiões são, como quase tudo que ele opina, impagáveis. Ele tem mania de repetir em excesso as mesmas palavras.
Vi num site, trechos de um de seus livros. Um opinante disse que nunca viu, num texto, tantas vezes "filho da p.", e questionou: "isso é literatura?".rs

Eu sempre o achei muito engraçado. E, de fato, o que mais gosto nele, é porque, apesar dele ser de esquerda, me parece mais um niilista, um ferrenho crítico do comportamento humano, de tudo que nos cerca.

Pena que ele ficou pouco tempo atuando no jornal. Mandei algumas missivas o elogiando. Uns poucos leitores, todos do sexo masculino, o elogiaram. Quanto às mulheres, só o criticavam.rs

Abaixo, segue um texto dele:

 Mesa 3 
:: André Sant'Anna


Esse cara tá mal.
Mas ele não desite nunca.

A culpa é do governo, porra. Os cara, brasileiro, acham que estão com a bola toda, que brasileiro é lindo, que brasileiro é feliz, que brasileiro é
hospitaleiro, que brasileiro é isso, que brasileiro é aquilo. Porra nenhuma. Culpa do governo, com essa mania de ficar "elevando a auto-estima do brasileiro". Auto-estima é o caralho. Auto-estima, pra mim, é coisa de viado, porra. Brasileiro porra nenhuma. Brasileiro é uma merda, feio pra caralho, sem dente, baixinho. Tem umas três mulheres que vá lá, mas é tudo alemoa. O resto, tudo trubufu. Desde quando bunda grande é bonito? Aqueles bundão cheio de espinha, na praia. Porra, e as criança na rua? Porra,
governo de esquerda, cheio de carro importado, aqueles jipão com vidro fumê. E as porra das criança tudo lá, pedindo dinheiro com o nariz cheio de meleca
escorrendo. Esse é que é o brasileiro, essas porra de crianca que vai tudo virar bandido e depois morrer logo. Também, foda-se. Ainda bem que eu sou alemão.

Vejam outro texto: http://www.bestiario.com.br/3_arquivos/Nothing%20is%20real.html

2 comentários:

  1. Deu o recado, com humor e ironia. Mas não sei se tantos textos, todos com palavrões, não cansariam o leitor. É possível ser impassível com elegância!

    Um abraço!

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  2. Até hoje, não conheço uma mulher que gosta do estilo dele.rs

    O que ele passa pra mim, também, é como se ele representasse um sujeito revoltado, desbocado, iletrado, mas engraçado, e que se tornou escritor.

    Já que vc falou que ele pode cansar o leitor, vc é que ainda não leu seus textos mais longos, no qual ele repete em excesso certas palavras.rs

    Gosto muito do estilo dele. Me faz rir; acho-o bem original.

    Abraços!

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