domingo, 10 de junho de 2012

Mudanças

Me lembro das coisas , desde meus seis anos de idade, em 1962, ano que eu  me entendi por gente.

Meus pais eram iguais ciganos, mudavam muito de residência.  Vou relatar os lugares em que eu morei.

Casa 1:

Morávamos num barracão(nada a ver com favela, barracão, aqui em Belo Horizonte, é uma modesta casa, pouco confortável, de poucos cômodos, ou seja, bem precária), num bairro tradicional de BH,perto do centro da cidade, o Padre Eustáquio. Era um barracão alugado. Foi nele , que meu único irmão nasceu.

Casa 2:

No ano seguinte(1963), meu pai conseguiu comprar uma casa, num plano financiado pelo governo, num local longe do centro, bairro Ipanema. Frequentei o Jardim; só me lembro que eu e mais poucos alunos ficávamos sentados, numa mesa bem grande. Eu gostava era da merenda , preparada pela minha mãe.rs
No ano seguinte, comecei a cursar o primeiro ano primário, num colégio dois quarteirões distantes da minha casa. Pintou umas trincas na casa, meus pais decidiram vender o imóvel, no meio do ano de 1964.

Casa 3:

Fomos morar num apartamento, num pequeno prédio, de um bairro bem perto do centro, Carlos Prates. Em consequência, mudei de colégio, que era localizado uns 4,5 quarteirões distantes da minha casa.
Eu gostava demais do lugar e também do colégio. O apartamento era alugado. Fiquei sabendo, há poucos anos atrás, que foi um conhecido do meu pai que cedeu o apartamento temporariamente para a gente. E ficamos morando lá por no máximo 6 meses. Fiquei muito chateado por ter mudado de casa e de colégio.

Casa 4

Em 1965, voltamos a morar no bairro Padre Eustáquio; desta vez, num barracão, como inquilinos do irmão mais velho do meu pai, que era seu patrão. Passei a estudar no colégio Padre Eustáquio.
Também vivemos, aproximadamente, uns 6 meses neste local.

Casa 5:

No segundo semestre de 1965, fomos morar num barracão alugado, em outro bairro tradicional e perto do centro, Calafate. E comecei a estudar no colégio Curso Chopin.

Casa 6:

Não sei precisar o ano em que mudamos para essa casa, que era localizado no mesmo bairro da anterior, dois quarteirões distantes da outra residência. Era outro barracão. Nos tornamos inquilinos da minha avó materna.
No meio do ano de 1968, mudamos...

Casa 7:

A casa número 7  ficava num bairro bem distante do centro de BH, bem distante mesmo! Meu pai comprou a casa, outra vez, por financiamento do governo. Era um bairro recém inaugurado, Jardim Riacho das Pedras. Fomos uns dos primeiros moradores. A casa ficava de frente a Rodovia Fernão Dias. Fui estudar num colégio de padres, no qual não havia alunas, só meninos. No primeiro dia de aula, já tive uma péssima impressão do colégio, tanto que fiz minha primeira rima, "Se vc quer entrar pelo cano, estude no Liceu Salesiano(era o nome do colégio). Não gostei do ambiente do colégio, e olha que a maioria dos alunos era de gente com pais abastados.  Entrei pro colégio no segundo semestre, e neste período, apesar de não gostar do mesmo, não tive problemas mais sérios. Infelizmente, no ano seguinte, me dei muito mal no Liceu Salesiano. Sempre gostei de me sentar nas carteiras de trás... Fui ser "amigo" de três caras, que se sentavam ao meu redor. Eram mais velhos do que eu(a gente tinha a mania de chamar de "caras grandes"). Eles me colocaram apelidos, viviam a me encher o saco e a me provocar, acabaram jogando a sala quase toda contra mim. Foi uma espécie de bullying, porém apenas verbal. Eu reagia verbalmente, mas não adiantava. Pra piorar fui o número 24 da sala. No entanto, eu não ligava com as piadas a respeito disso, apesar de achar bem incômodo tal número.rs

Fomos bem infelizes neste bairro. No colégio Curso Chopin, eu tinha amigos, gostava da escola. No Liceu Salesiano, não tinha mais amigos, e nem no bairro. Haviam muitas casas desocupadas , no bairro, eu caí na besteira de sujar , não me lembro mais se foi uma ou mais delas, com barro. Isso foi descoberto, e foi um verdadeiro escândalo . Na noite que descobriram, eu junto, do meu pai, seguimos até o local no qual eu tinha feito meu ato de vandalismo. A rua estava cheia, e cheia de gente indignada com meu ato; uma mulher chegou a dizer: "esse menino tinha que ficar no quadrado(prisão)". Foi muito desagradável. No natal, eles deram uma festa na rua, só minha família é que não foi convidada. Meu pai testemunhou minha tristeza, ao me ver olhando , da nossa casa, a festa, e disse, com aquele jeitão duro dele: "Não liga não, não liga para esse pessoal!".

Na rodovia Fernão Dias presenciamos alguns acidentes, em frente nossa casa, num deles, à noite, minha mãe, sozinha na varanda, viu uma mulher sendo atropelada(ela morreu). Minha mãe gritou. E a mama, ainda neste bairro, foi vítima de um acidente, junto com meu pai, no seu carro. Foi uma simples colisão com outro carro, nada grave. Minha mãe bateu com a cabeça no para-brisa, mas não se machucou. Porém, ficou com trauma, com muito medo. Ficou anos sem viajar; o trauma foi enorme. Com o passar do tempo, ela conseguiu diminuir bastante a sua fobia.  E , no meio do ano de 1969, mudamos outra vez.  Desta vez, gostei muito da mudança, saímos do inferno!

Continua...




7 comentários:

  1. Quantas mudanças! Nenhuma delas,pela sua descrição, o fez feliz. Na infância, tudo marca demasiado, razão pela qual mantém, ainda hoje, essas lembranças. Vou aguardar a próxima, eis que, pelo que deixou claro, não se assemelhou às anteriores.
    Abraços

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  2. Caraca e ainda tem mais?!?!?! Eu nunca me mudei, e sim, gostaria muito de me mudar, não que eu não goste do meu bairro é que escadaria é um karma, para comprar um picolé tem que subir e descer degraus!!!

    E sim, favela não é tão ruim Tio Verden, tem seu lado bom também! :)

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  3. Oi Marilene, dessas 7 residências, gostei mesmo foi do apartamento no Carlos Prates. A que eu não gostei mesmo foi no Jardim Riacho das Pedras.

    Então, de acordo com esses relatos, não gostei de me mudar do Carlos Prates, mas gostei de ter saído do Jardim Riacho das Pedras.

    Mudar tanto assim, não é bom para a formação do caráter de uma pessoa. Muda-se de casa, em consequência, muda-se de colégio.
    É difícil , às vezes, se adaptar.

    Nesta época, até que esse tanto de mudanças , não me irritavam tanto, mas com o passar do tempo, fui ficando muito revoltado com tudo isso.

    Pandora,

    Eu estou até com inveja, nunca se mudou, que felicidade!
    Lamento pelos degraus.

    Já morei perto de favela, e conheci, claro, muita gente boa lá. Mas, eu não gostaria de morar numa favela, e olha que sou um sujeito muito simples.

    Sobrinha e conterrânea, muito obrigado pelos seus comentários.

    Uma boa semana pra vcs!

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  4. Aqui onde moro próximo tem uma favela. Como no meu bairro não tem mercadinho, as pessoas sempre que falta alma coisa vai até esta favela e compra. Temos esta casa já faz 32 anos então as pessoas da favela já conhece a gente, e a gente elas. Quando tenho de ir a rua de ônibus prefiro sair e entrar por ela. assim não corro o risco de ser assalta em ponto de ônibus. Na minha cabeça é uma extensão do meu bairro. É um lugar igual a qualquer outro, tem gente boa e tem gente ruim. Tem um pão delicioso no final da tarde e sempre chega verduras e frutos. Mais barato que um mercado no centro. Gosto de comprar no meu bairro para ajuda-lo crescer.
    Beijos!

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  5. 32 anos morando no mesmo lugar, incrível!

    Já morei dois quarteirões de uma favela, quando morei no bairro Padre Eustáquio, na adolescência. Conheci muita gente boa lá. Eu e até minha mãe e minha avó materna, passávamos por lá, para cortar caminho. Hoje, as favelas ficaram mais barra pesada. Ainda existem gente boa, mas a criminalidade aumentou muito, entre seus moradores.

    Obrigado, Janice.

    Abraços

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  6. Nossa, quantas casas!!rsrs até agora eu to morando só na segunda casa da minha vida!!

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