quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pragas - A Justiça Divina



"Praga de urubu magro, não pega em cavalo gordo"

Certas pessoas têm mania de jogar praga nos outros.  Eu acho isso uma bobagem, um ato ínútil; pensando melhor, ridículo. Eu próprio, impulsivo e rancoroso, já joguei praga nos outros. Mas, penso que mesmo o urubu sendo gordo e o cavalo sendo magro, pragas não pegam.

Minha avó materna era especialista em jogar praga nos outros. Jogou praga em mim, no meu pai, nos seus filhos.
Super egoísta, adúltera, rancorosa e venenosa, assim era minha querida avó.
Teve 5 filhos. Os dois primeiros foram frutos do seu casamento.  Na verdade, eles não eram filhos do seu marido; eram filhos de pais diferentes.  Seu marido, um funcionário público, pegou minha avó no flagra com outro homem, seu chefe, um famoso e influente político. Eles moravam numa famosa cidade mineira.
Ele a levou para a casa dos seus pais, numa provinciana cidade das Minas Gerais.

Foi um escândulo , afinal era década de 30. Minha avó ficou como uma prisioneira dentro de casa. Só saia acompanhada para ir à Igreja. Fez amizade com o padre, o conquistou(há fortes suspeitas que ela teve um caso com o pároco) . E o santo padre ajudou minha avó a fugir de casa. Ela foi morar numa famosa e nada provinciana cidade mineira. Lá conheceu meu avô.
Meu avô , ao ir pro trabalho, ficava uns minutos em frente da sua residência, vigiando , pra ver se minha avó saia de casa... Tudo normal. Mas, uma pessoa revelou a ele que minha avó saia de casa pulando o muro de uma vizinha. Saia, claro, pra passear e namorar.  Não sei se meu avô foi violento com ela. Sei que ela com medo e querendo se livrar dele, pediu ajuda de um delegado(suspeita-se que os dois tiveram um caso), que prendeu o meu avô por um dia. O vovô, homem de bem, ficou indignado!  Ela veio para Belo Horizonte.
Meu avô dizia que ela ainda havia de ser assassinada.
Que bobagem!  Ela morreu aos 85 anos, dormindo, de parada cardíaca. Estava lúcida, gozava de boa saúde.
Não se conformava com a velhice: "olho no espelho e nem acredito que sou eu", "a velhice foi o maior castigo que Deus nos deu", "eu tive uma vida tão boa, e agora estou assim". E aos 78 anos, ela foi acometida de câncer de útero.  O médico falou com a minha mãe que ela só tinha 6 meses de vida.
Ela não precisou fazer quimioterapia. Seus cabelos não caíram, ela ficou curada.

Já minha pobre mãe, que hoje faria 71 anos, padeceu 37 dias num hospital; quase um mês no CTI. Morreu sozinha, rôxa, inchada. A mama era uma ótima pessoa, excelente filha, uma eterna vítima da ingratidão e grosseria da minha avó.

Dos cinco filhos, o único que não tinha contato com ela, era o filho número dois. Seu pai, o ex-marido de minha avó, criou-o, junto com o filho número um,  falando que ela estava morta. Por volta de 1966, eles descobriram que ela estava viva , e vieram até onde morávamos para conhecê-la. O filho número um, egóista, folgado, boêmio, beberrão, adúltero, virou presença constante em nossa casa. Já o segundo filho, sumiu do mapa. Um dia, minha mãe, amorosa e conciliadora(ela adorava família), telefona pra ele. Minha avó queixava muita sua ausência. Minha mãe disse isso ao mesmo, que respondeu que sua consciência doía ... Ele procurou a minha avó, mas os contatos ficaram restritos ao telefone. No seu aniversário, ele perguntou que presente ela queria ganhar, ela disse que queria  um som. Ele se afastou. Nunca mais teve contato com ela.
Ela ficou com raiva e vivia jogando praga nele.
Seu irmão mais velho, que morava na mesma cidade dele, dizia: "quanto mais a mãe joga praga no Zé, mais rico ele fica". rs. Ele era um sujeito honrado. Era bancário.

continua...

2 comentários:

  1. Mais que praga alivia a raiva , Ah! ...alivia.
    Não sei. Só sei que cada caso é um caso.
    Não tenho medo da velhice. Rugas, doenças, fim, nada disso me assusta.
    Tenho outros medos.

    ResponderExcluir

Todos os comentários serão respondidos.

Marcadores