terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre as Ironias das Amizades(3)

A Faxineira e Minha Mãe

F. foi faxineira por mais de 30 anos da minha mãe, não corridos, mas dos  anos 90 até a morte da minha mãe, em 2008.

F. é a pessoa que eu mais devo obrigação em minha vida. Neste tempo todo em que ela trabalhou em nossa casa, nunca discutimos, ela sempre me tratou bem. Depois da morte da minha mãe, passei a morar sozinho. No final de 2009, tive que me mudar às pressas, devido ao barulho de som, patrocinado por dois vizinhos, que moravam parede e meia comigo. Eu ainda não havia encontrado uma casa para alugar. Fiquei 6 dias na casa do meu irmão , e a F. ficou com minhas coisas em sua casa. Não tenho muito, mas uma das coisas, ocupa muito espaço: pouco mais de 1000 vinis. E foi a abençoada F. que arrumou um lugar para eu morar, em frente à sua casa. Além disso, fez uma faxina na minha casinha, lavou e passou minhas roupas. Insisti em lhe pagar, ela não aceitou, falando que eu desse então dez reais para a sua neta, que a ajudou. Ah, na mudança foi ela que embalou minhas coisas. Também não quis receber dinheiro, novamente falando que eu desse dez reais para sua neta.
Há poucos meses atrás, tive um problema de circulação, eu creio , que fez com que eu tivesse dores nas pernas e ficasse mancando. Ela me deu gel, dois comprimidos, e no dia que isso ocorreu, como eu estava com dificuldades de me manter em pé, ficando impossibilitado de cozinhar, ela me deu da sua comida.
Com boa vontade, deixa eu usar seu telefone, quando preciso(estou sem fone, atualmente).

Não fui no velório/enterro da minha mãe. Mas, me contaram que a F. até passou mal, e até hoje, ela me fala o quanto sentiu a morte dela. A F. a tinha como uma irmã, a adorava.
Aí que vem a ironia da situação, minha querida mãe, não comungava do mesmo sentimento.
Não que minha mãe desgostasse da F., mas que tinha amizade por ela,isso não tinha. Pra minha mãe, F. era uma faxineira, só isso, inclusive a mama falava muito das limitações da F., nesta função, que era absolutista, certas ordens dela, não cumpria, e conversava demais, dando palpite onde não devia. E o companheiro da minha mãe pensava da mesma forma.

Casos assim acontecem mesmo. Cheguei até a relatar, num post, no blog dos delírios, sobre amizades e simpatias não correspondidas. Se a F. soubesse disso, creio que ficaria decepcionada e triste.
Mas, caso existir vida pós-morte e minha mãe estiver me acompanhando, certamente que ela deve estar bem agradecida à F., e a adorará, como a nossa faxineira,de longo tempo, a adorava.

13 comentários:

  1. Depois de ler essa sua trilogia, eu te pergunto:
    as vezes a gente não consegue nem dar 100% da gente pra gente mesmo, como cobrar 100% de outra pessoa?

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  2. Cris,

    Eu revelo isso no post, "O Pior Dia da Minha Vida", no blog dos delírios.
    O q a F. fez por mim, acredito q poucos fariam.

    Ana,

    Eis minha resposta: "Se eu fosse um homem bom, entenderia a distância que há entre os amigos"(Roger Waters)rs

    Cris, vc não me respondeu sobre as perguntas q fiz sobre o Paulo Sérgio.rs

    Cris e Ana, muito obrigado pelos seus comentários.
    Tudo de bom pra vcs!

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  3. Para F.

    "Cada grito de irmandade que damos se perde no ar e voa aos espaços sem limite.Mas esse grito,dado dia após dia pelos ventos,chegará por último a um dos extremos da terra e ressoará longamente,até que um homem,em alguma parte,perdido na imensidão,escute-o feliz,sorria.."
    Albert Camus
    obs:
    fundo musical:
    não recordo ao certo,
    Meu grito ou O grito de A.Timóteo
    seria bem reflexivo(e sentimental)
    boa quarta-feira,Roderick

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  4. Poxa, Paredes, bonita homenagem à F., e ela merece mesmo!

    "Meu grito", bonita música do irascível Agnaldo Timóteo; composição da dupla Roberto e Erasmo Carlos, não?

    Obrigado, Paredes, boa quarta-feira pra vc tb.

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  5. Eu tenho uma relação muito superficial com as pessoas, toda vez que confiei em alguém fui traída. Hoje me calo e fico na minha, aconteça o que acontecer comigo...

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  6. Que beleza de amor F lhe deu, gratuitamente. A vida gira e nos dá presentes assim. Quase sempre, vem de pessoas com as quais não temos laços de sangue. Tenho uma amiga cujo marido, médico, necessitava de um transplante de rim. Não conseguia doador compatível. Já estava bem mal e, imagina quem doou??? a mulher que lhes prestava serviços domésticos.

    Bjs.

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  7. É irônico sim.

    Mas os sentimentos, por mais que isso pareça cruel, não exigem nem dão garantia de reciprocidade. Uma relação sim tem que ser via de mão dupla mas o sentimento se basta.

    Um beijo.

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  8. é tem pessoas que as vezes nem ligamos tanto, mas as vezes são essas que gostam de nós de verdade, ou vice-versa...

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  9. Marilene,

    É sempre assim, de onde menos esperamos... Penso q tem q ser bem caridoso pra doar seu rim, embora há condições de vivermos só com um. Os avarentos da saúde, os avarentos do amor, jamais fariam tal coisa.

    Oi Luna,

    Legal ver vc por aqui, sempre me deparo contigo, no blog da impagável malunga, Ana Pe.rs
    É válido o q vc disse, mas ainda acho q gostar de uma pessoa, seja por uma simples amizade,ou amor, e não ter um retorno, é muito triste. Mas não há como aplaudir sentimentos nobres, como o da F..

    Apareça mais, viu?

    Denise, é isso mesmo!

    Marilene, Luna e Denise, meu muito obrigado!

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  10. Vou te responder aqui, então(e vc não me respondeu sobre o Paulo Sérgio-rs).

    Minha mãe morreu as 15:15, em 29.08.2008. Fui a primeira pessoa a ver seu corpo na CTI. Foi terrível! O velório foi a noite. Optei por não ir, pq eu não queria vê-la num caixão, não queria q os outros vissem minha dor, me preocupei tb de perder o controle; preferi ficar só, em casa, com a minha dor.

    Aqui um divã?! rs
    Fique à vontade.rs

    Grato pelos comentários.

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  11. Verden, não consigo guardar mágoa de ninguém. Acho que o sinismo deve ser isto. Gosto de ver até onde pode ir uma pessoa.
    As pessoas mais simples e humildes ajudam sempre. Vai que um dia sua mãe faz algo por ela, ou ela assistia o sofrimento de sua mãe provocado por seu pai.
    Beijos . valto depois.

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